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Um bebê abandonado sendo achado na porta de uma igreja não era uma visão muito incomum, principalmente na pequena cidade de Tulbegh. O que era incomum era o bebê ser achado durante uma das tempestades mais fortes do ano, não parecendo temer nem um pouco os raios, rindo a cada estrondo dos trovões. Um pequeno dragonborn, uma raça relativamente rara, e com um rabo ainda por cima, que a fazia parecer ainda mais parecida com seus parentes dragões. Seria ela um presente de seu deus? Os sacerdotes certamente consideraram a pequena Ramiel como tal, considerando a marca de um acerto de trovão logo abaixo de seu berço.

Sendo treinada a controlar seus poderes de tempestade em segredo, desde muito pequena Ramiel foi usada como um tipo de ídola para aquela ramificação da igreja. A pequena fazia seu trabalho com orgulho, fazendo tudo que os sacerdotes mandavam. Eles sabiam descrever os desejos do deus muito melhor que ela, afinal! Mas seus dias de glória naquela igreja seriam curtos. Seu deus estaria mesmo pedindo todos aqueles tributos? Era mesmo necessário punir todas aquelas pessoas com suas descargas elétricas? Porque todos os tributos iam diretamente para a mão de seus superiores? Ramiel logo começou a ver o temor que os plebeus tinham nos olhos quando iam visitá-la. Não era a adoração que achava que tinham quando era mais nova. Ela questionou os sacerdotes sobre esse assunto, somente para receber um sermão como resposta. Ela deveria somente ficar quieta e obedecê-los, fazer o que seu deus mandava. Então ela continuou.

Mas quando Ramiel finalmente colocou o pé firme no chão e parou, a vida para os outros na igreja virou um inferno.

Ramiel começou a fazer de tudo para não obedecer seus superiores. Não fazia mais as atividades da igreja, dormia até tarde, os atrapalhava pegando o dinheiro que eles roubavam dos plebeus. Seu quarto virou uma exibição de quinquilharias que ela comprava só para irritar os sacerdotes, já que eles não a puniam muito com medo de seus poderes. Viver a vida de acólita eventualmente não era mais para ela. Ramiel tomou gosto pela preguiça, a ponto do alto sacerdote enfim decidir expulsá-la da igreja. Enfim! Todo o seu trabalho (ou falta dele) deu em alguma coisa.

Não ter mais a igreja a bancando certamente seria chato, mas Ramiel não se importou. Poderia arrumar uns trabalhinhos fáceis aqui e ali para ganhar algum dinheiro. Talvez o pouco que aprendeu com aqueles charlatões do culto poderia servir de algo, poderia ajudar algumas pessoas de verdade. Mas primeiro, precisaria de férias!

...Infelizmente, as férias não vieram. Nem um mês depois que foi expulsa, o alto sacerdote apareceu no local que ela estava hospedada com guardas. Ele a apontou o dedo e a acusou de roubar o artefato mais importante da igreja. Disse que ela sentia rancor pelo tratamento que a deram, e decidiu retaliar. A parte do rancor estava certo, mas que artefato era aquele? Ela nunca nem sequer soube da existência de algo assim. Porém, parecia impossível convencê-los disso.

Os seus poucos dias na prisão enquanto a investigação acontecia foram extremamente tediosos. Gostava bastante de dormir (ou tentar), mas só tinha isso para fazer ali! Nem café eles tinham. Sabia que os guardas não achariam nada por ela. Mas ei, talvez se encontrasse quem roubou o tal artefato, poderia sair desse buraco? Foi em uma das inúmeras visitas do alto sacerdote com o chefe da guarda que conseguiu convencê-los de ao menos a dar essa chance. Mal acreditou quando conseguiu! Talvez eles também estivessem ficando sem pistas.

Quando foi livre para começar a procura, sentiu que poderia simplesmente trocar de reino e mudar de nome, fugir dessa responsabilidade por completo. E talvez realmente a fizesse! Se sua aparencia física inteira e seus poderes não a dedurassem na hora. Sem muita escolha, Ramiel decidiu partir atrás do ladrão. Não poderia negar que estava curiosa. Mas tomaria o seu tempo nessa tarefa. Que bom que não combinaram limite de tempo...