[Fanfic PT-BR] Bombom


Authors
Nani_Mitsu
Published
1 year, 2 months ago
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Uma pequena história que Mary escreveu em seu diário em um momento de devaneio.

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E se eu tivesse feito algo diferente, será que os resultados seriam outros? Será que eu conseguiria ter um pouco mais da afeição dele? Um pouco mais da atenção dele de outro jeito… Não, pelo que Lucy falou, eu já tinha, ele só não se deixava levar… O que eu poderia ter feito?

A jovem mulher de cabelos vermelhos e encaracolados lia calmamente um livro qualquer sentada em uma das cadeiras daquela enorme biblioteca de onde agora era seu lar. Levantou seus olhos róseos acima do livro e encarou um homem muito alto e forte, mas bem vestido, também lendo. Só que ele não parecia estar compreendo tão bem o livro que lia, pois seu rosto entregava a confusão, não parecia lidar bem com livros de economia.

Levou uma das mãos à boca, cobrindo-a antes de dar uma risada discreta e deitar o livro em seu colo. O sorriso gentil se manteve enquanto sugeriu:

— O que acha de darmos uma volta? Seria ótimo para aproveitarmos um dia tão bonito.

— Ahn? Ah, claro! O que você desejar. — respondeu ele meio confuso no primeiro instante e logo abriu um sorriso.

— Então irei me arrumar para irmos.

Levantou sem muita cerimônia, deixando o livro separado ali e seguiu em direção ao quarto, seguida por sua empregada pessoal. Ao chegar lá, apenas obteve ajuda dela para pentear os cabelos e prendê-los para colocar um chapéu que combinasse com o belo vestido que trajava.

Conversaram um pouco enquanto Cordélia arrumava as mechas vermelhas, foi algo simples, mas a outra parecia muito animada com o passeio que eles fariam, começando a falar os locais que poderiam ir e afins na cidade. Apesar dos olhos fechados, a mais nova Espolatto ouvia atentamente.

Não demoraram muito e desceram. Lammar parecia feliz em sair um pouco, apesar da semana cansativa. Não perderam tempo e entraram na carruagem para irem ao centro da capital, o qual não era muito distante. Logo andavam pelas ruas comerciais daquele lugar.

Ao descer, recebeu ajuda de seu marido, que logo estendeu o braço para que segurasse, e Mary assim o fez.

— Obrigada. — agradeceu e arrumou o chapéu em sua cabeça com uma das mãos, afinal o Sol estava forte naquele dia.

Seu coração não batia mais de tanto nervosismo como antes, mesmo que sair não fosse tão rotineiro entre eles.

— O que você gostaria de comprar?

— Estava pensando em comprar algumas roupas e acessórios de frio, afinal o inverno se aproxima.

— Faz sentido, realmente. As minhas já estavam apertadas no ano passado, melhor não arriscar. Gostaria de ir comer em algum lugar depois? — Lammar perguntou já começando a caminhar por aquelas ruas após dar instruções ao cocheiro.

Mary colocou a mão no queixo, pensativa. Havia uma loja de doces nova na que estava em alta dentre as damas da nobreza. Pareceu ficar ansiosa com a própria ideia e olhou para o marido, percebendo que ele já a encarava curioso. Tossiu para esconder a vergonha que a atingiu ao ser observada por aqueles olhos bicolores, apesar de que o rubor já era bastante óbvio.

— Há uma loja nova de doces que eu adoraria…

— Como quiser, minha querida!

Poderia estar acostumada com o jeito dele de agir, mas o de falar quando estavam fora da mansão não, nem o grande sorriso que ele sempre abria. Era o suficiente para quebrar sempre todas as barreiras que armava em volta do próprio coração. Sentia o rosto arder fortemente, então começou a se abanar com seu costumeiro leque.

— Obrigada…

Agradeceu baixo, contudo pôde ser ouvido por ele, pois o sorriso bobo aumentou, assim como a velocidade do próprio abanar. Nunca deixaria de ser uma tola apaixonada…

A escolha das roupas demorou mais do que o esperado, afinal outros nobres também já haviam começado a se preparar para o inverno. Compraram o suficiente para sobreviver àquela estação que chegava e logo se dirigiram à nova loja de doces que ficava na área mais nobre do centro da capital italiana.

O lugar era muito bonito e bem arquitetado, possuindo duas áreas de mesas, uma externa e outra interna caso quisessem consumir por lá. A fila estava grande, então apenas esperaram a vez até serem atendidos. Grande parte dos doces do dia já tinham sido levados ou consumidos, restando pouquíssimos ali. Compraram alguns para comerem no caminho, outros para os pais de Lammar e outros para os empregados, e ganharam uma pequenina caixa de bombons de brinde, um produto que seria oferecido em breve na loja. Retornaram à mansão na hora do jantar, então assim o fizeram antes de se trocarem para irem dormir.

O pequeno brinde havia sido deixado na pequena mesa de cabeceira ao lado da cama. Mary não demorou para pegá-lo e abri-lo, revelando uma caixa com alguns bombons de chocolate ali, era uma caixinha de 3x3, ou seja, havia 9 pequenos doces. Entregou um para Lammar e pegou um para si. Levou-o à boca e começou a mastigar devagar, sentindo a doçura do chocolate inicialmente, seguido por um gosto mais amargo no final, mas era bom, muito bom. Pegou um segundo, terceiro, quarto e, ao pegar o quinto, a mão de seu marido parou-a. Ele havia comido apenas 3.

— Acho melhor você parar, tem álcool aqui. Não vai querer acordar com dor de cabeça amanhã, quer?

— Ora! Mas qual o problema? Uma vez não vai me matar, Lammar.

— Me dê a caixa.

Apenas obedeceu a contragosto, estava tão gostoso. O viu comer o restante de uma vez e logo em seguida levantar.

— Eu já volto. Vou trazer água para nós dois.

Cruzou os braços e confirmou com a cabeça, emburrada como uma criança e logo puxou as cobertas, enrolando-se ali em meio aos lençóis, sem deixar nada descoberto. Girou um pouco, parando no lado dele do colchão, sentia o calor residual dele ali. Era confortável, caloroso… Queria sentir esse calor mais de perto, será que ele deixaria? Queria abraçá-lo.

Amava-o muito, muito, muito. Só que ele não, e isso doía muito em seu peito. Não gostava de pensar sobre isso, queria sentir o carinho do marido. Sentiu os olhos encherem de lágrimas, mas se conteve.

— Amo muito… — murmurou baixinho, ainda presa no meio dos lençóis.

Permaneceu deitada ali por alguns longos minutos até ouvir a porta abrir e Lammar entrar.

— Mary? — chamou ao vê-la daquele jeito.

— Oi?

— Eu trouxe água para você.

A contragosto, levantou e sentou-se na cama, recebendo o copo de água em mãos. Bebeu o líquido frio de uma vez, sentindo ainda o amargo que havia ficado no fundo da garganta e voltou a deitar. Havia deixado o copo na bandeja.

— Mary? — A voz dele parecia tensa ou indecisa, não tinha certeza.

— Hum?

— Você está no meu lugar…

— Hum… Desculpa.

Moveu-se, devolvendo o espaço para que o marido deitasse, entretanto estava mais próxima que o normal. Suas mãos passaram a brincar com as costas dele, traçavam as delimitações de algum músculo ou apenas tocavam aleatoriamente aquela região. Ao primeiro toque, ele estava já tenso.

— Mary?

— Hum?

— Você pode se afastar, por favor?

Encarou as costas grandes dele ali, era possível ver as orelhas dele em tons rosados.

— Por quê?

— Porque você está muito perto…

— E qual o problema? Eu sou sua esposa, não posso ficar perto?

— Er… Não é isso…

— Então vire de frente para conversarmos.

Foi possível ouvir um grunhido vindo dele antes que ele se virasse e pudessem se olhar. Finalmente pode vê-lo, as bochechas rosadas junto ao olhar envergonhado era um deleite de se ver.

— Bem melhor! Assim podemos conversar.

Um grande sorriso surgiu nos lábios dela, deixando-o mais vermelho. Sem pensar muito, levou a mão esquerda até o rosto dele, fazendo carinho em sua bochecha. Não demorou alguns segundos para ele a interromper de novo segurando sua mão.

— Vamos dormir, você não está bem.

Mary simplesmente ignorou o que foi dito a ela, pois se encontrava hipnotizada encarando o rosto do marido tão de perto. Conseguia ver alguns resquícios de uma barba loira que estava querendo nascer e focou o olhar nas íris, uma cor diferente da outra. O sorriso apaixonado continuava no mesmo lugar, enquanto o loiro parecia mais e mais envergonhado.

— Você é muito bonito.

— A-ahn?! Quem é bonito?

— Você, o meu marido!

O rosto dele se tornou tão vermelho quanto as próprias mechas dela, sorriu mais com aquilo. Os olhos bicolores dele ficavam evidenciados em meio ao rubor. Ele era tão lindo, tão adorável. Queria abraçá-lo.

— O-obrigado, Mary. Podemos dormir agora?

— Por que você continua fugindo?! — exclamou ela, enquanto se levantava para sentar na cama, irritada, cansada de tudo aquilo. — Eu sou sua esposa, me dê um pouco mais da sua atenção!

Lammar pareceu ficar confuso e um pouco afobado, balançando as mãos em nervosismo de um lado para o outro enquanto falava:

— Eu não tenho como parar meu trabalho, você sabe disso… 

— Não é disso que estou falando!

Demorou alguns segundos para o loiro entender a que se referia, quando sentiu o sangue sumir do próprio corpo. O olhar dele para a porta, traçando uma rota de fuga, foi mais do que o suficiente para que Mary segurasse sua mão e o puxasse para sentar na cama de surpresa.

A melhor palavra para descrevê-lo, além de extremamente envergonhado, seria tenso. Havia congelado no lugar, suava frio, e enrijeceu ainda mais a postura, quando sua esposa simplesmente se encaixou em seu colo, ao mesmo tempo que o abraçava pelo tronco e deitava a cabeça em seu peito.

A ruiva ficou ali por algum tempinho naquela posição, pois seu marido não mexia um músculo. Era boa, quentinha e confortável. Sentia-se segura ali, como se nada pudesse fazer mal algum a ela. Aconchegou-se bem, aproveitando o máximo que podia naquela situação, mas seu coração deu um sobressalto ao senti-lo passar os braços por si, também em um abraço. Sorriu de orelha a orelha, feliz e satisfeita.

Já sentia o sono chegar quando se lembrou das palavras de Cordélia, sua dama pessoal: "Às vezes, uma surpresa boa pode ter resultados incríveis! Tente fazer isso alguma vez, não se arrependerá, senhora Mary." A dúvida se instalou em sua cabeça naquele momento: o que poderia fazer?

A mulher de madeixas ruivas olhou para cima, observando as bochechas vermelhas de seu marido assim como as suas, seguido do queixo, lábios e nariz, ele havia fechado os olhos. Era possível sentir um leve tremor vindo dele, seguido de uns grunhidos. Deu uma risadinha sem som, encarando o perfil daquele homem por quem era perdidamente apaixonada.

Analisou com cuidado todos os detalhes daquele rosto, decorando ao máximo cada canto, porém sua atenção fixou-se nos lábios dele. A única vez que se beijaram foi na cerimônia de casamento há 3 anos e a responsável pelo ato havia sido ela, pois ele beijou-a na bochecha. Eram casados agora, não tinha problema algum fazerem isso estando a sós. Queria beijá-lo desde que descobriu o seu amor, queria ter a atenção dele como esposa da mesma forma que lia em alguns livros, não queria mais aquela fachada que mantinham para os outros. Queria que ele olhasse para ela de outro jeito!

O rosto dela já pegava fogo quando se decidiu. Deus a perdoaria por ser tão libidinosa? Não estava desejando ninguém além do próprio marido, então… Não tinha qualquer problema, não é?

Desvencilhou-se do delicioso abraço e levantou-se, mas sem deixar de estar de frente para ele. Viu-o abrir um dos olhos depois de alguns segundos, como se percebesse a falta dela ali e a procurasse, encontrando-a em pé à sua frente. Então ele sorriu abertamente antes de falar:

— Você está mais calma, Mary? S-sempre que quiser um abraço, basta me pedir! — disse enquanto tentava demonstrar confiança apesar da timidez.

Contudo não obteve resposta da parte dela, que o encarava intensamente com os olhos róseos e brilhantes, deixando-o mais envergonhado. Permaneceram em silêncio por alguns segundos antes de Lammar voltar a perguntar:

— Ei, está tud-

Porém sequer conseguiu completar a frase, sendo surpreendido por um selar de lábios, que o fez novamente enrijecer a postura. Foi apenas um selinho demorado e logo se separaram. Lammar estava chocado demais para falar, enquanto Mary rapidamente voltou para o seu lado na cama e enrolou-se nos lençóis, a fim de se esconder e camuflar a própria vergonha. Era bem provável que nenhum dos dois conseguisse dormir depois daquilo.