[PT-BR] Amor


Authors
Nani_Mitsu
Published
5 months, 5 days ago
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1143

Durante uma noite de descanso, em uma sacada de uma colossal mansão, Samara e a antiga 'eu', Mary, conversam sobre amor.

Conversa canônica no universo do RPG.

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Samara bebeu mais um pequeno gole daquela xícara de chá e voltou a levantar o olhar, encarando uma ruiva de olhar afiado à sua frente. Seu olhar era quase cortante, como se a julgasse a cada movimento, desconfortável, absolutamente desconfortável.

— Tu és extremamente vulgar. — O jeito pomposo que a outra falava lhe dava vontade de rir, nem ligando tanto para o que era dito.

— E você é muito puritana — devolveu sem pestanejar.

— Antes, ser puritana a ser uma mulher... Tão luxuriosa.

— Eu estava solteira, que mal tem? Melhor do que ser casada e morrer virgem, mas querendo dar para o marido 24/7. — Levou mais uma vez a xícara à boca enquanto falava a frase de forma audível.

As bochechas da ruiva começaram a ganhar tons semelhantes ao próprio cabelo por conta da pele pálida.

— Eu... Eu era muito bem casada! Meu marido não era alguém tão leviano assim.

A expressão raivosa e assassina dela era algo. Uma vontade enorme de rir veio.

— Mary, eu vi sua vida toda e você viu a minha. Somos a mesma pessoa, você não consegue mentir para mim. Nós duas sabemos a verdade. A vida pode ser outra, mas eu reconheço minha libido como ninguém.

Era possível alguém ficar tão vermelho assim?

— Seu marido era um verdadeiro campeão e alguém de respeito, porque se eu fosse ele, nunca conseguiria me conter como ele fazia. O Lammar realmente te amava demais.

Dito e feito, a expressão de raiva murchou completamente, apesar da carranca ainda estar ali.

— Ele não me amava, tu sabes disso.

— Ele não te amava do jeito que você queria, essa é a frase certa. A Lucy já te disse isso e não vem com o mesmo papinho pra cima de mim, eu sei que você só tá frustrada, além de cansada.

— ...

— Você sabe que existem muitas formas de amar? Família, amigos, filhos e muitas outras. As atitudes dele deduravam-no de forma tão escancarada quanto as suas atitudes.

— M-minhas atitudes?!

— Mary, você é tão transparente quanto água. Seus sentimentos ficam estampados na sua cara muito facilmente, você tenta, mas não sabe fingir muito bem não. Só a Marie e a Teresa mesmo pra não notarem algo tão óbvio...

— Me respeite!

— Eu te respeito, por isso estou falando. Vai, repete pra mim o porquê você se apaixonou por ele.

A mais nova dedilhou um pouco a xícara de chá e encarou o próprio reflexo de expressão sofrida antes de começar a falar. As bochechas novamente coraram.

— O Lammar era alguém com coração gigante... Gigante demais. Ele tentava sempre estar de bom humor perto de mim, sempre alto astral, mesmo que estivesse muito cansado. Ele acordava muito cedo e voltava muito tarde do posto de comando. Só que isso nunca o impediu de me fazer companhia quando eu não conseguia dormir... Eu sofro de insônia desde os... 11 anos? Começou depois de irmos para a Itália, você sabe...

Samara concordou com a cabeça.

— E se eu durmo, sofro com pesadelos quase sempre. É um inferno não ter uma noite boa de sono, então ele me acompanhava durante a madrugada ou até me abraçava para me acalmar se eu acordava chorando, mesmo que sempre evitasse contato físico comigo. Só que... — Ela parou por conta de um soluço, limpando as lágrimas que escorriam. — Em algum momento nos meus primeiros meses lá, tudo isso diminuiu muito. Dormir abraçada a ele já era o suficiente para eu voltar a ter uma noite tranquila de sono. Eu me sentia segura ali... — Outro soluço. — Ele tentava fazer dar certo também. Sempre passeava comigo nas folgas, fazia todos os meus gostos e sempre me priorizava. Ele tentou gostar do que eu gostava, mas não deu muito certo, então eu tentava fazer o que ele gostava. O sorriso dele era tão lindo... — Um sorriso surgiu. — Eram muito engraçadas as anotações dele para me "conquistar", sempre tentava ser romântico comigo. E, das vezes que eu passei mal, ele era o primeiro a aparecer assim que a Cordélia avisava... Apesar de pedir que não. Ele sempre me elogiou muito, mas ficava tão alegre quando eu elogiava ele. Tudo que eu o presenteei era utilizado quase como um troféu... Era muito adorável... Eu sinto tanta falta dele... Eu queria ver aquele sorriso mais uma vez...

Esperou que Mary se acalmasse para falar, entregando alguns lenços para ela.

— Eu sei disso, sinto a sua saudade doendo no meu peito desde que acordamos... Mas sabe? As atitudes do Lammar são de alguém que te amava tanto quanto. A preocupação dele contigo é a maior prova de tudo isso, só lembrar quando ele... — Ia falar da situação da ilha. — Quando ele perguntava se você ainda queria voltar a dormir ou se preferia conversar? Acho que só a nossa irmã fez isso conosco. Ele preferia te ver bem a qualquer custo ao invés de fechar os olhos enquanto você tava mal. Ele queria que desse certo, ele realmente tentava, mas os sentimentos românticos não afloravam, mas não era culpa dele e eu digo porque você sabe que eu também sou assim. O carinho que ele sentia por você era muito forte, ele te queria tanto quanto para o resto da vida. Não sei se posso falar isso por ele, mas meio que ele fez isso então... Era o seu sorriso acima da dor dele, da própria vida dele. E não foi por questão de moralidade ou algo do tipo. Ele era feliz contigo, muito feliz. — Parou por alguns segundos e sorriu para ela com um semblante triste. — Eu já tive alguém assim, que eu faria de tudo para que a felicidade dela fosse alcançada, mesmo que eu me destruísse no caminho. Eu me abdiquei de ter ela na minha vida em troca de ela ter uma vida feliz, mesmo que ela fosse uma das pouquíssimas pessoas no mundo que me entendesse sem me julgar. E eu não estou falando da nossa irmã, é um amor diferente, é o mesmo estilo de amor que o seu marido sentia, eu acho. De querer ter esse alguém comigo para sempre ao meu lado, mas não necessariamente ter um relacionamento...

Encarou-a e entregou mais alguns lenços, em seguida, abriu o sorriso costumeiro, o qual foi respondido por um olhar confuso e desconfiado.

— Além disso, haja força de vontade pra resistir não te tocar. Você é um pecado ambulante. Se eu tivesse o seu charme, nem bruxo me pararia.

— SAMARA!