CHAPTER 01 - A LION WHO FELL
TW: Cannibalism
And into the forest I go, to lose my mind and find my soul.
Como seus ancestrais antes dela, Suçuarana foi criada por sua família em Saladeste, gigantes montanhas ditas de serem habitadas por descendentes de pumas, rumorizados de montarem aves de rapina, de engajar em canibalismo durante o inverno e oferecer sacrifícios, dando nome á sua terrível reputação. Eles possuem muito pouco contato com o "Lado Baixo", até mesmo o campeão de bandos vizinhos tinha medo de ir até lá. O povo de Saladeste chama a si mesmo de "Morahorin", que significa "Nascido nas Montanhas". É dito que, nos tempos antigos, eles vagaram até Saladeste, capturaram os habitantes, mataram seus guerreiros e banquetearam com seus corpos durante uma quinzena.
ㅤㅤA partir do massacre, é dito que uma maldição foi lançada por um antigo médium e protetor do domínio, domador de aves escuras e dominador de feitiçarias sobre o povo bárbaro de Morahorin. Suas palavras foram decretadas nas antigas escrituras: "Até que o Sol nasça no Oeste e se ponha no Leste, não haverá fruto a nascer desta árvore que será livre das raízes da montanha onde vertestes o sangue e lançastes a sombra da desgraça. Este que degenera seu pecado divino, há de tomar para si as dores de mil jardas." Assim, é conhecido que todo Morahorin é nascido do pecado, e condenado a padecer pelos séculos vindouros nas mesmas terras que testemunharam seus atos nefastos. Todo aquele que ousasse abandonar as encostas da montanha selaria seu destino com a eternidade dos mesmos lamentos que seus ancestrais lançaram sobre aquelas terras.
ㅤㅤApesar de eventualmente distorcida, tanto pelos Morahorin quanto pelo povo do Lado Baixo, a história da terrível maldição ecoava como uma verdade inegável - além disso, aqueles que ousaram desafiar as fronteiras não eram bem vindos em lugar algum, por trazerem o medo e a desconfiança de qualquer anfitrião, e também nunca retornaram de sua viagem ás montanhas para compartilhar suas experiências. A partir das dúvidas que surgiram ao longo dos anos, muitos começaram a enxergar a narrativa como um folclore para manter os jovens afastados das fronteiras e dos perigos da selva abaixo da segurança nas alturas, mas a família não deixava de enfatizar a importância de permanecer dentro da trilha.
ㅤㅤSalazar era um líder bem-visto e responsável, até o dia em que sumiu de sua posição, deixando a esposa, Iracúndia, a mercê de seu próprio julgamento como próxima no cargo de liderança por longos seis meses. Em qualquer um dos pontos da montanha, ninguém encontrava o felino, e iniciaram rumores de que ele os havia deixado num episódio de alucinações para sair das montanhas.
ㅤㅤA real ancestralidade de Suçuarana era um mistério para os Morahorin, uma vez que seu pai teria sumido por luas e aparecido de volta á luz das montanhas num dia escuro por neblina, com a filhote entre os dentes. Se recusava a compartilhar por completo os passados seis meses, voltou mais rigoroso do que antes, acentuava os perigos reais do Lado Baixo, irritadiço e cortante, apesar da figura miserável que carregava Suçuarana no dia de seu retorno. Iracúndia a criou de mal grado, devido ao ressentimento por seu marido ter aparecido de repente e levantado rumores afiados de que a gatinha pertencia á uma felina de fora. Iracúndia chegava a desejar que os deuses a levassem, orava que a gatinha morresse de qualquer forma. Da mesma maneira, a gata repentinamente criou um laço forte e desesperado com Suçuarana, após ela ter adoecido com fortes febres á luz das 3 luas de idade. Ardentemente arrependida, Iracúndia chorava e pedia novamente aos deuses serem piedosos com a filhote inocente, sob a promessa de que seria uma mãe de verdade para ela.
ㅤㅤAssim, Suçuarana foi curada nos dias seguintes, e Iracúndia ficou tão submersa em sua promessa que a filhote se tornou indispénsavel. Estava comprometida á missão de criá-la como sua filha com todo seu coração, quase como se tivesse sob um encanto, que chegava a afastar seus colegas da colonia, em estranheza.
ㅤㅤQuando filhote, Suçuarana era uma gatinha curiosa, energética e inconsequente, de tempos em tempos revelando traços mais arrogantes e teimosos de sua personalidade, quais eram o reflexo cuspido de seu pai. Ela sempre teve um grande senso de aventura, e como jovens de sua idade, ela era ambiciosa e obstinada, mas lhe faltava sabedoria e prudência. Ela amava sua família profundamente e estava sempre tentando participar ativamente em patrulhas e reuniões, treinando ferozmente para alcançar seu irmão mais velho, e herdeiro dos títulos de seu pai. Suçuarana sempre notou o ressentimento de Iracúndia em relação a ela, pois ela fazia questão de lembrá-la que não pertencia de verdade. No entanto, após sua febre, a gatinha reconhecia seus esforços para se redimir e a perdoou com facilidade.
ㅤㅤApesar de terem se instalado nas montanhas, a família nunca deixou seus hábitos nômades, frequentemente jntando-se em grandes grupos para viajar por pontos específicos das montanhas, diante de certas estações hostis ao longo do ano. Era uma tarde quente e clara do verão, sem núvens no céu e o quieto burburinho de pássaros ao longe, quando eles se deslocavam para o próximo acampamento. Absorta por um ruído estranho e uma agitação alegre que ecoava na mata rasteira, Suçuarana, de 5 luas de vida, se desviou da rota de sua família em busca de uma presa distraída. A presença de serpentes nas montanhas era uma raridade, e Suçuarana não tinha experiência para identificar o sinistro chocalhar de uma cascavel até que estivesse perigosamente perto do predador. Em pânico, tentou perder a cobra pela distância, mas sempre tão paciente, a serpente a acompanhou de longe e a encurralou nos confins da montanha. Finalmente, a imagem sinistra da cobra se encontrava há apenas passos de distância, curiosamente menos predativa, observando a gatinha espantada de perto. A partir do retardo da serpente, um segundo felino, Salem, agiu primeiro, arremessando-a para longe da irmã mais nova.
ㅤㅤEnquanto Salem batalhava com uma cascavel o dobro de seu peso, Suçuarana se encontrava em choque, congelada, assistindo o irmão dar a vida por suas ações ainda tão inconsequentes. Nos altos, a família também assistia o conflito, barrados pela distância, podiam apenas gritar em alerta. De repente, o solo sob as patas da gatinha cedeu sob seu peso, e apesar de saltar desesperadamente em busca de terra firme, ela despencou junto com os destroços.
ㅤㅤHoras depois, Suçuarana recobrou a consciência, seu corpo coberto de sujeira e pedras, sua cabeça latejando e uma corrente grossa de sangue escorrendo de sua testa para formar uma poça no chão. Atordoada, com as patas tocando a grama da floresta, ela encarou o desconhecido e aterrorizante cenário à sua frente: uma matagal selvagem que se estendia até onde a vista alcançava, em um horizonte que parecia inatingível.
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