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Originalmente um piano, ela foi feita por encomenda para uma família de nobres em Fainkarb. Sua confecção era de primeira, e tinha o emblema da família talhado nela. Como o líder da família era um entusiasta de pianos, ela foi usada por muitos e muitos anos, até depois do líder morrer. Ficou por mais de cem anos com essa família, mas eventualmente ela faliu e o piano teve que ser vendida.

Ela não se lembra muito das coisas a partir daí. Sente que não foi usada muitas vezes, talvez tenha sido passada por muitas pessoas, sem que ninguém ficasse com ela por mais de alguns anos. Quando ela menos esperava, ela foi transformada em meia elfa.

O que viu quando abriu seus olhos foi um senhor de meia idade, sem o braço direito. Ele se apresentou como Melchior, e explicou que tinha dado a ela uma nova forma, para que ela pudesse viver junto dele e sua família. Melchior vivia em uma mansão grande, com muitas pessoas vivendo lá. Tinha gente de todas as espécies, e todas as idades. Segundo Melchior, todas as pessoas ali, exceto ele, foram objetos transformados por ele. Eles pareciam felizes, mas o piano, agora batizada de Melia Melchior, sentia que tinha algo errado com tudo isso.

Algumas semanas foram se passando, e Melia foi se familiarizando com aquela grande família. Apesar das personalidades contrastantes de todos, ela conseguiu se dar bem com a grande maioria deles. Também foi se acostumando com o novo corpo. Não tinha o que reclamar dele, e de alguma forma o logo de sua família original conseguiu continuar nele, na forma de uma tatuagem em seu peito. Curiosa com o buraco em sua memória, um dia ela decidiu perguntar a Melchior o que ele sabia sobre o passado dela, e por onde ela passou até chegar nas mãos dele. O senhor disse que não sabia muito os detalhes, mas que ela já tinha passado por famílias em Mermeryth, Neqüerjhandri, Lythurk e até Nomithérn, e agora estava em Demnor, na mansão dele. Isso a deixou surpresa. Imaginaria que, passando por tantos lugares assim, ela teria conseguido uma família que a usasse por mais de um segundo.

Depois de um tempo ponderando sobre isso, Melia foi até ele perguntar se poderia sair pra visitar um desses lugares, já que nunca tinha saído de casa até então. Pra sua surpresa, ele negou ferozmente, nem parecendo o senhor gentil que falou com ela anteriormente. Segundo boatos dos objetos, ele começou a transformar objetos em gente depois de um desastre decimar a família dele toda. Melia não sabia o quanto acreditava nisso, mas o comportamento dele sempre que pedia pra sair a incimodava demais. Não importa o motivo do velho, manter todos esses objetos trancados, sem nenhuma memória do mundo lá fora era demais pra ela.

Tentou falar com os seus colegas mais próximos sobre fugir dali. Mas pra sua surpresa, nenhum deles parecia muito interessado em fugir. Disseram que várias pessoas já tentaram no passado, e que Melchior as pegou e elas nunca mais foram vistas. Isso somente deixou Melia mais desesperada, mas seus colegas só deram de ombros. Estavam feliz lá, já que podiam fazer o que quisessem que não fosse sair de casa. Só ter um corpo já era o suficiente para eles. Mas não para Melia. Logo depois disso, ela fugiu. Antes que pudesse se afastar da mansão, ela foi abordada por pessoas que nunca tinha visto antes, tentando pegá-la e levá-la de volta. Mas depois de muito esforço, ela conseguiu escapar.

E com isso, ela começou uma nova vida, pela segunda vez. Começou a usar o nome Allegro e ganhava moedas tocando música. Eventualmente seguiu o caminho do crime também, batendo carteiras e vendendo itens falsos. Cada dia era sofrido, tentando se manter escondida o máximo possível, nunca ficando mais de três dias no mesmo lugar. E depois de algumas semanas, Allegro finalmente alcançou o litoral, e invadiu um barco. Não sabia qual era o seu rumo, mas precisava ficar longe de Denmor o mais rápido possível. E também, queria explorar o resto do mundo! Perdeu quase dois séculos apodrecendo na sala de aristocratas, e agora que tem pernas, ela vai usá-las e experienciar tudo que não pode.