Fuuka — Flash Fic


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9 months, 11 days ago
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Algo escrito por meu amigo, sobre um final de dia de trabalho da Fuuka.

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Batucando com os dedos na mesa da recepção, Fuuka esperava. O relógio marcava 21:08. Seus olhos deslizaram do aparelho para a planta artificial que o chefe insistiu em colocar na recepção, mesmo que esta não combinasse com o ambiente. E das folhas verdes criadas em algum laboratório, seus olhos foram guiados até a janela, onde o céu noturno de Neo-Tokyo dividia espaço com as infinitas propagandas e veículos.


Refletiu sobre como alguns anos antes tentou seguir um exercício que vira em uma revista, onde uma entrevistada que tinha sua idade na época recomendou apreciar os pequenos momentos do dia, com o momento da mudança de horário sendo seu favorito, quando uma inteligência artificial, escondida em algum dos vários prédios da ala central, decidia em toda sua glória qual a iluminação mais apropriada para o período de 24h. A garota falou sobre a distante beleza de milhares de pequenas partículas dos painéis que envolviam Neo-Tokyo vibrando, energizando, e mudando suas frequências.


Porém uma visão romântica por si só não ajuda a manter a sanidade de alguém. A falta de sutileza nos momentos que o robô decidia que deveria ser manhã e não madrugada era cômica, e o momento mais elogiada por aquela garota, quando desligavam os painéis para recalibragem, exibindo a paisagem por trás deles, rapidamente perdeu a beleza e logo se tornou a óbvia máscara que o governo colocou para esconder os problemas causados por eles mesmos.


Álcool, todavia, ajudava a manter a sanidade. Era estranhamente reconfortante saber que ainda não era velha o suficiente para preferir ficar em casa nos fins de semana tomando chá. Porém, se o bar lotasse, seria o que teria que se contentar com.


Batucando com os dedos na mesa da recepção, Fuuka esperava. Seus olhos deslizaram até o relógio novamente. Eram 21:10. Fuuka conteve seu grunhido de frustração, juntamente com a vontade de esganar sua colega. Sua cartela já havia acabado e ver o pessoal novo correndo atrás dos gatos encrenqueiros não entretia para sempre.


Foi nesse ponto que sua estimada companheira finalmente entrou. Seu cabelo estava um pouco desarrumado, as roupas estavam razoavelmente amassadas, e ela parecia mais cansada do que antes.


- O diabo finalmente deu as caras? - disse Fuuka, muito além do ponto da irritação.


- Desculpa amiga, de verdade, é que…


Fuuka ergueu seus olhos. Ela se calou.


- Olha… - os 1001 palavrões que colecinou ao longo de mais de 10 anos de trabalho inundaram sua mente. - Só… vê se começa a pegar horários melhores pra se encontrar com ele, tudo bem? - pediu. - Você disse cinco minutos, e já foi quase meia hora.


O rosto da amiga ruborizou.


- Fuuka eu temo… Temo não saber do que você está falando - respondeu, escolhendo com cuidado suas palavras.


- Bom, tem razão. Você certamente não está de rolo com o estagiário novo, e eu certamente ganho o suficiente mesmo sendo quem “nunca tira férias.”


Sua amiga baixou a cabeça.


- Sinto muito, mas… Olha, desculpa mesmo, mas te trouxe isso - disse, entregando uma cartela do The Royal One. - Ouvi mais cedo você reclamar que não havia comprado mais.


Fuuka bufou e alcançou os cigarros.


- Só não força a barra, tudo bem? - respondeu colocando o casaco. - Se você fizer isso com a outra lá vai ter dor de cabeça até não aguentar mais.


Sua colega assentiu.


- Muito bem, bom turno - disse. - Sua roupa está amassada - acrescentou.


- Até depois - respondeu sua colega, tentando arrumar o colete antes de sentar-se.


Marcando seu ponto e deixando a construção, Fuuka caminhou até o bar. “Unhas de caranguejo ou pego algo diferente hoje?”, pensou.