Contos de Halloweilin 2022


Conto da Meia noite

"Hoje vou ler para vocês a última carta que eu recebi de minha avó."

— Harumi.

Querida Neta.

A algumas noites tenho sido atormentada por estranhos sonhos, e mesmo que você seja tão jovem você sempre acreditou em mim, por isso te deixo escrevi essa carta. Raios e trovões ensurdeciam aquela noite, e relâmpagos causavam um clarão tão intenso que iluminava todo o quarto. Os ventos entravam uivantes pela janela, e os intensos pingos anunciavam a vinda de uma tempestade. Mas nada naquele momento fazia diferença, pois minha atenção se mantinha fixa em uma misteriosa sombra no canto de meu quarto. Olhava para ela apenas de relance, de forma que torcia para que ela não visse meu olhar. Seja lá o que fosse, estava ali imóvel à horas, e parecia ser grande, mas mesmo com a luz dos relâmpagos iluminando o quarto não consegui ver em detalhes à sua aparência, pois a claridade não alcançava o lugar onde ele estava. Mas era possível notar minimamente sua fisionomia, sua pele parecia lisa e ter uma clara tonalidade. Seu corpo possuía um formato cilíndrico e seus braços e pernas pareciam ser extremamente longos. Algo se mexia constantemente no lugar em que acredito ser o centro de seu abdómen. Uma movimentação estranha que minha intuição dizia ser sua boca.

Esse misterioso ser permanecia ali, parado e silencioso e aos poucos isso foi me consumindo. Um pânico subia pelo meu corpo a medida que os minutos se passavam, eu permanecia tentando ser discreta em meus olhares curiosos, mas eu já não aguentava mais encarar aquela estranha figura, sem ao menos souber o que poderia ser aquilo. Retirei o coberto e de minha cabeça e me ergui sentando na cama, mas para minha surpresa o ser permaneceu tão imóvel quanto antes. Me inclinei em busca de ver detalhes de si e notei que seu rosto possuía um exótico formato e toda a face era preenchida por um único olho, que parecia estar fechado Meus olhos brilharam em curiosidade, então calmamente levei minhas mãos até o interruptor do abajur e o acendi. A criatura saltou sobre mim de forma tão veloz que nem pude ver sua aproximação. Mas antes que eu fosse atacada eu acordei.

( fim de carta)

Minha avó enviou essa carta para minha família, pois estava apavorada com o sonho que havia tido, mas meus pais simplesmente ignoraram tudo o que ali estava escrito. Mas eu guardei esta carta, na época eu era uma criança e não sabia ler, mas sabia que essa carta não era uma carta qualquer. Alguns dias após recebermos essa carta minha avó faleceu durante uma noite chuvosa. Vizinhos ouvira gritos e foram ao seu auxílio, mas chegando no local encontraram-na morta sobre a cama e com várias partes do corpo despedaçadas e apenas o abajur ligado. Foi definido que ela foi atacada por alguma fera, mas até hoje meu coração me diz que outra coisa de isso com ela. Se isso é verdade eu talvez nunca saberei, mas oriento a todos aqui presentes, se virem algo te observando em noites chuvosa.

Não acenda a luz.


História por: Thalita Lorrainy

Nanny Kumo

"Venham todos! É hora da história."

— Narrador.

- Venham! Venham todos! É hora da história, claro que ninguém se interessa por um velho perneta que mal consegue se equilibrar, mas a história pode vir a lhe encantar!

Uma voz animada, rouca e bem peculiar estava a chamar, cantarolando e girando sem sequer sair do lugar, parecia que ia se espatifar no chão a qualquer momento, afinal com sua perna de pau, vários tropeços parecia que iriam o derrubar.

- Venham, sei que não vão se chatear! Talvez se assustar ou até mesmo delirar…

Finalmente sentando o velho pareceu mais apto para conversar, atraindo olhares curiosos, crianças, jovens, adultos e velhos, todos eram convidados para a roda, cada um em seu canto, em pé, no chão, deitado, sentado, até mesmo de cabeça para baixo! Afinal cada um tem suas manias de conforto, não é?

- Hoje vou-lhes apresentar a Nanny Kumo! Vocês conhecem, devem conhecer, talvez em histórias em quadrinhos ou brincadeiras, na minha época tínhamos a Kumo Kumo vem pegar! Lembram?

Os olhares confusos fizeram o senhor gargalhar, mostrando que estava realmente velho.

- Kumo Kumo vem pegar, quando o sol se ausentar, ela vem nos papar! Vamos crianças! Eu cantava isso o tempo todo com meus amiguinhos.

Mais uma vez ignorado ele se colocou de pé, batendo palmas para chamar atenção dos dispersos, alguns pareciam se lembrar e outros nem ideia, então o velho começou a cantar.

- Kumo Kumovem pegar / Quando o sol se ausentar, ela vem nos papar / Quem será? Quem será?/ Que a Kumo vai jantar!

Uma voz grossa e peculiar, causando arrepios em todo lugar, era apenas um homem a cantar.

- Ela vem, a cantar / Se bobear, vai te pegar! / Ela anda sem vacilar e as crianças vão chorar!

Talvez não fosse o ideal assustar crianças, afinal era para ser divertido e agora tinha pequenos olhos coloridos cheios de lágrimas.

- Não! Não chore! / Pois ela vem, secando suas lágrimas /Chamando de "meu bem"/ Bem gentil, vai te pegar / E com doces, te acalmar! Hahahaha! /Kumo Kumo, vai te pegar! /E com um sorriso, te ganhar /Em uma fila vai alegrar! /Crianças bobinhas ela vai jantar!

E pra onde vão? Uma boa pergunta, apesar de tola! Era uma criança, como as de sua história, que sumiam durante a noite e nunca mais retornam!

- Longing Forest! Aonde a saudade vai reinar! /O choro de mães em luto, vão lhe agradar! / Kumo Kumo! Vem pegar! / Crianças malvadas que vão explorar! / Kumo Kumo, vai se empanturrar/ Com os jovens que não sabem escutar! / Hahahaha

Talvez fosse inapropriado, mas era divertido, o choro é algo sincero, o medo é real e tudo se liga em uma bela história.

- Fatos reais? É só ver os números, crianças sumindo, nunca voltando. Nanny Kumo? É só uma grande babá, ela leva crianças para devorar! - Mais uma vez o homem velho veio a sentar, batendo no joelho o qual apoiava a perna de pau, finalmente parando se cantarolar e agora passou a reclamar, ouvindo perguntas sobre a boa Nanny, mas se fez de difícil para não falar.

- Tá tá! Podem parar, vou lhes saciar com curiosidades da velha Nanny, agora. Por favor, se coloquem a sentar.

Finalmente o show iria começar, no caso o show de horrores, é melhor tirar a criança da sala, pois ninguém gostaria de a ouvir chorar.

- A história começa a anos atrás, talvez.... 95 anos? Não não. Acho que foram 96! Era uma vez.... Um jovem garoto que era baderneiro, conhecido por sua alegria que contagiava, de forma boa ou ruim, aventureiro, animado, alegre e sem limites, talvez oito ou nove anos, ninguém sabia, afinal o garoto não sabia contar ou ler, muito menos conhecia os próprios pais ou o afeto de uma família, uma criança abandonada as margens da grande Longing Forest, vivo por milagre? Não, apenas sorte. Joseph era seu nome, a única coisa que conseguia se lembrar, mesmo que tivesse traços de memória sobre seu passado, pouco se lembrava para falar com confiança ou certeza quem ele era, pois então viveu da forma que deu, entre becos, catando comida, lixo para reciclagem, conseguindo algumas moedas com o povo que era minimamente bondoso para lhe oferecer centavos, brincando com crianças que não tinham a maldade do preconceito, mesmo que as mães fossem contra a socialização inocente, aonde não existe rico nem pobre, apenas pessoas!

Joseph era um menino bom, mesmo sofrendo, vivendo um dia de por vez sem sequer saber se iria acordar na manhã seguinte, passou anos assim, morreria assim? Não sabia, porém era aventureiro, mesmo chamado de louco, foi e voltou de Longing Forest várias vezes, nunca entrou tão fundo na floresta, mas sempre ia atrás de frutos ou animais com carne minimamente comestível! Como eles a conseguia? Ele ganhava! Era diferente de caçar. Louco? Sim, mas era sua diversão, Joseph fez amigos assim, garotos e garotas interessados em sua coragem sem fim, se reuniam para ouvir sobre o que ele encontrou, sobre o que comeu ou achou, alguns corajosos até mesmo experimentaram as frutas e pedaços de carne de animais desconhecidos, ele fez seu negócio, em troca de comida realmente boa e moedas ele contava e cantava, ele ganhava a vida. Mas ele precisava de mais, então por que não uma exploração! - Sabiam que eu tenho uma Babá?

A voz do menino afirmando isso os deixou confusos, como o garoto órfão e miserável que vivera toda sua vida nas ruas tinha uma babá? Mesmo com risadas e piadas ele insistiu nisso, batendo os pés para que acreditassem em suas palavras que pareciam pura fantasia...o sonho de afeto, talvez.

- Se forem corajosos venham a noite! Que eu mostro a Babá para vocês! Ela tem doces e frutas gostosas!

Mesmo sem acreditar houve aqueles que ousaram ir, pulando janelas, saindo escondidos de seus pais para verem a tal da Babá, aonde encontraram o jovem, pela primeira vez estava bem vestido e apresentável, afirmando que sua Babá o arrumou decentemente para que os levasse.

- Kumo Kumo veio os convidar! /Vamos todos nos juntar /Em fila vamos caminhar /Para onde Kumo está!

A voz doce do menino deixava os corações agitados dos jovens mais calmos para o acompanhar, em uma fila calma foram caminhar, uma trilha iluminada por vaga-lumes, flores belíssimas e coloridas, parecia dia naquele corredor de árvores encantador com frutos pendurados, escorrendo melaço e mel, puro açúcar para que possam se empanturrar.

- Kumo Kumo com doces vai te alimentar /Com alegria você vai chegar /Em sua casa vai os alegrar! - Vamos! Todos juntos! - Kumo Kumo vem me buscar! /Em sua casa eu quero brincar! (×2) /Kumo Kumo eu quero brincar! /Em sua casa me empanturrar! /De doces eu quero me alimentar!

Um coro, vozes doces como mel que acordaria a pequena cidade, mas de onde vinha a cantoria alegre e cheia de energia? Quem eles chamavam? Quem estava ali? Quando se deram conta as crianças não estavam aonde deveriam estar, apenas Joseph caído na entrada da floresta, sem sua perna, manchado de sangue, seria seu ou de outros? Mesmo acordado ele não parecia se lembrar, ele não chorava, não gritava e muito menos falava nada...

- O que será que Joseph viu? Para onde ele levou as crianças?

A história foi interrompida por uma criança curiosa, fazendo o velho homem soltar resmungos antes de se abaixar, chamando apenas as crianças para poder sussurrar.

- Querem saber?

Os gestos positivos foram feitos rápidamente com a alegria de uma criança inocente.

- Venham aqui a noite e eu vou-lhes mostrar.

Os olhares assustados pareceram se encher de brilho e ansiedade, a noite caiu mais uma vez, como deveria ser! E o que aconteceu? Apenas o de sempre, crianças curiosas e mal ouvintes, se aproximaram da proibida e grande entrada da floresta, recepcionadas por um homem bem vestido com roupas divertidas.

- Vamos crianças! Hora de cantar! Kumo Kumo vem pegar…


História por: Bruna Victoria e Andy Blake

A flor dos milagres

"Caro leitor, por favor se acomode num lugar confortável para aproveitar o conto, onde possa tirar o melhor desta experiência e usufrua de seu tempo sozinho com as palavras aqui escritas."

— Narrador.

Aos passos decididos do solado das botinas que marcavam o solo frígido, o corpo se movimentava para cada vez mais adentro da vegetação transcendente e inalterada da entrada da grande e infame floresta Longing, assombrosa, coberta por uma grossa névoa e com altas árvores cujas copas impediam toda e qualquer luz de tocar o chão que suas raízes firmavam-se.

Um rapaz, jovem e louco que acreditou que poderia mudar a essência do senso comum das pessoas a respeito da floresta. Ele se chamava Eliot. Um jovem de pele abrasada e com marcas saturadas num tom vívido de azul celeste. Seu rosto era emoldurado por fios de cabelo rebeldes em um tom caramelo que combinava com seus olhos cansados do profundo azul. Eliot era um garoto de baixa estatura e corpo patologicamente magro e franzino que combinavam com sua personalidade tímida.

O jovem tinha a curiosa mania de usar muitas camadas de roupa uma por cima da outra, como se tivesse sempre a intenção de ser escondido por elas ou quem sabe não parecer tão magro.

Sua avó certa vez lhe contou sobre uma flor rara e talvez única que nem mesmo os maiores botânicos de Nandi podiam entender e talvez provar sua existência. A única prova de sua existência era um velho rascunho em carvão feito no diário de um pesquisador esquecido pelo tempo. Acreditava-se que a “Flor dos milagres” era como uma criatura viva capaz de deter grande poder e alguns afirmavam que quem a encontrasse poderia pedir qualquer coisa e teria seu desejo realizado, outros já afirmam que ela possuía o poder de curar qualquer doença e havia também quem dizia que apenas um toque nessa bela flor bastaria para enriquecer devido a sorte que ela traria. Poderia se dizer que o destino atou sua sina a memória vivida dos contos de sua avó e lhe entregou um grande fardo cuja somente a promessa da flor poderia livrá-lo.

O ambiente gelado da floresta era a princípio muito silencioso onde apenas sua respiração e seus passos eram ouvidos no meio daquela névoa entre as árvores, o chão parecia uma grande trilha emaranhada em areia preenchida por grossas raizes e plantas rasteiras, muitas de coloração escura que não passavam da altura dos joelhos, com diversos botões negros fechados como lágrimas esquecidas. E mesmo que soubesse que estava avançando cada vez mais para dentro da floresta, o sentimento de andar no mesmo lugar era muito presente, a paisagem parecia sempre a mesma, mesmas árvores esguias, mesmo solo arenoso, mesma névoa densa.

Um pé atrás do outro avançavam os passos, um a um segue à frente, as pegadas são deixadas para trás não tão solitárias quanto quem as marcava contra o chão, e assim prosseguia sem deixar que o frio lhe trouxesse arrepios na espinha que o impedisse de continuar, mas agora não era mais uma opção parar, já estava muito longe, precisava encontrar a flor.

Um uivo baixo, provavelmente só o vento, um galho partindo não muito distante, talvez só estava velho… Um suspiro pesado, não estava sozinho, não estava mais solitário como acreditava. Um pé atrás do outro agora se colocavam em disparada, não poderia terminar agora ali ainda precisava encontrar a flor, os passos fraquejavam ao mesmo ponto que outros pés passaram bater contra o solo atrás de si, sabia que talvez não conseguisse retornar mas não imaginava que seria assim, não, seu corpo fraco não aguentava, o ar cortante como tantas agulhas entravam por sua boca ofegante pelo medo e desciam pela garganta aos pulmões num craquelar dolorido como pó de vidro. Correu com a certeza que sua vida dependia disso ao mesmo tempo que pôde sentir que o ato de correr a tirava cada vez mais de seu corpo debilitado.

Recitou suas crenças dentro da mente apavorada, pedindo aos deuses que conseguisse chegar a seu destino, implorou pela única chance de sobrevivência que via, chorou pela vontade de viver que ainda lhe restava até que… O som cessou, aquele silêncio tomou o espaço, seus passos não eram mais audíveis e apenas um fraco suspiro escapou pelos lábios entreabertos, um momento latente em que deixou de sentir-se e veio apenas a escuridão.

Era difícil dizer que sabia onde estava, tinha uma sensação gelada tocando suas costas como um sentimento de alívio pelas dores que um dia sentiu, sons irreconhecíveis rondavam seus sentidos antes que a respiração profunda enchesse seus pulmões de ar que fez estes silenciarem, seus olhos abriram e fitavam o céu estrelado ou seriam vagalumes…? Pontos brilhantes amarelos dançavam por todo ambiente como magia e iluminavam o espaço bem mais que quando era dia. Se sentou devagar, agora compreendendo que se tratou de um desmaio, observando ao redor.

Ainda estava na floresta, porém estava diferente, transformada, parecia outro lugar e era completamente lindo, aqueles brotos negros como lágrimas agora eram lindas flores vermelhas com pétalas esguias de ponta azul, o miolo com pequenos filetes igualmente azulados possuía este pólen brilhante num amarelo ouro vivo os quais flutuavam num cintilar.

Puxou do meio de sua roupa um pedaço de folha de papel surrada cujo desenho estampado nela era o mesmo das flores que estavam ao seu redor, teria a encontrado e esteve esse tempo todo bem debaixo de seus olhos. Era tão abundante, tão comum, talvez nem precisasse ter corrido tanto pela floresta, mas isso era uma verdade? E agora o que faria? Mesmo que conseguisse uma cura, para onde iria? Onde era o norte? Era impossível ver as estrelas do céu dali e antes era impossível ver o sol… Estaria preso pra sempre na tão mal falada floresta Longing… Seria mais um número dos que entraram e nunca saíram. Não, todo esse trabalho não poderia ser em vão, o melhor a se fazer era se recompor.

Tomou uma flor em mãos e a colocou cuidadosamente num dos bolsos de sua roupa, a levaria consigo, afinal, seus calçados marcaram o chão até aquele local, só precisava retornar seguindo as próprias marcas. Se colocou em pé outra vez, tomou fôlego e olhou pelo chão procurando as próprias pegadas de sapato, porém mesmo que as tivesse encontrado, não sentiu alegria e sim pavor, pois viu mais um par de pegadas além das próprias… E pôde sentir um suspiro álgido tocar sua nuca.

Teria você chegado tão longe quanto nosso Eliot? E você tem certeza que está mesmo sozinho?


História por: Atom Chrisis

O Ogro Polegares

"Escutem crianças, pois apesar de seu nome engraçado, esta criatura vos persegue até os dias de hoje!"

— Narrador.

"Há muito tempo atrás, na Era de Prata, quando nosso povo mal estava se compondo, muitas criaturas começaram a temer nosso crescimento, nossa evolução. Enquanto construíamos nossas vilas com os minerais e recursos que antes tão abundantemente nos cercavam, de forma egoísta e ignorante, fomos roubando o lar de muitos a nossa volta. A paz entre nossas vilas significou que nosso povo crescia em números drasticamente, tomando mais e mais espaço entre as terras.

Com nosso crescimento, precisávamos mais e mais de alimentos e recursos, para manter-nos vivos e confortáveis, mas fomos cegos em notar que certos locais nunca deveriam ser remexidos. Um de nós, William Vangarten II, encontrou uma bela montanha com um rio por perto, em busca de formar um novo lar com sua esposa, porém a cada buraco, cada piso tocado, era como uma onda que se guiava até o centro do que agora eles chamavam de casa. Um certo dia, William foi ao centro da vila em busca de um doutor para seu filho caçula que havia caído doente e nenhum descanso o trazia paz. Nenhum médico queria o atender, ignorando-o, recusando, e até fugindo. O eilin confuso e desesperado para ajudar seu filho foi em busca do sacerdote mais próximo, chegando ao seu encontro, o religioso imediatamente se demonstrava nervoso. Indignado, William questionou-o em busca de respostas:

- Qual o signifcado de tal tratamento, sacerdote? - proclamou em voz alta - Sempre fui um eilin de muita fé, gentil e educado, o que há de tanta negligência do povo que me acompanhou desde o nascimento?

- Criança, não o vê? Não estamos o ignorando, mas sim a sombra que persegue seus calcanhares...

William virou seu olhar para trás, notando que sua sombra se remexia violentamente, como se inúmeros tentáculos se contorcessem, tentando agarrar algo que não estava lá.

- Padre... o que significa isso? Por favor, eu preciso de respostas, meu filho está doente e não posso perder mais tempo! - com sua voz trêmula, o comum implorava diante ao sacerdote.

- Criança, temo que apenas os Deuses conseguirão lhe responder suas perguntas, pois meu poder não me ofereceu o conhecimento que precisa para resolver suas angústias. Derrotado, William voltava de carruagem para seu lar, ele não acreditava que sua única esperança era rezar e esperar pela melhora de seu filho e sua própria. Porém ao chegar há poucos metros da montanha, nuvens taparam o alcance da luz, fazendo-o erguer sua cabeça, o choque deixando-o sem ar.

Onde antes as nuvens tapavam os topos das árvores, ele só podia ver o nublado, e na base de onde ele havia construído sua casa, era possível ver apenas uma queda gigantesca, nada de seu lar a vista. Dirigindo-se desesperando em uma corrida desajeitada, ele chega até a beira da queda, e no fundo desta enorme cratera, destroços de mobilias, cadáveres de animais e corpos retorcidos de figuras eilins ajustadas no formato de preces.

William desceu tonto, sem palavras, olhando a tragédia a sua volta e sua família, que agora era uma deformidade sangrenta. Suas mãos trêmulas avançaram de forma inconsciente em direção dos corpos de seus amados, mas assim que se aproximaram, sua visão escureceu, e não havia mais nada na cratera, um largo vazio, ele mesmo ajoelhado no chão em prece, mas em vez de suas mãos espalmados, elas se encontravam em punhos, e dentro ele encontrou os polegares de sua esposa e filho.

O horror em seu olhar, suas lágrimas finalmente jorraram, seus gritos ecoando das paredes e acima, como uma súplica aos Deuses. Depois de muitas horas ajoelhado ao chão, William se ergue, virando sua cabeça para trás derrotado, mas algo atrai seu olhar. Sua sombra não estava mais acompanhada, de fato, não havia mais sombra nenhuma vinda de seu corpo, olhando de volta para baixo, ele nota:

- Meus polegares...sumiram."

Relatos de crateras surgindo, famílias desaparecendo e estranhos polegares aparecendo nas portas de suas próximas vítimas são ouvidos até hoje! Se apenas William não tivesse decidido se mudar para aquela montanha, nós teríamos menos coisas pra nos preocuparmos!


História por: Vatra Rogar

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